BLOG DR. AMIGO ENTREVISTA DRA. MARIANA PEREIRA – PSICÓLOGA (CRP 10/04225)
1 – De acordo com a visão psicológica, o que é um sorriso?
Mariana Pereira – O sorriso é uma forma de comunicação. Existem diversas formas que encontramos para nos comunicar com o mundo. A fala é uma delas. Mas também nos comunicamos por uma perna que não para de balançar, dos braços cruzados na altura do peito, do semblante fechado e por meio dos nossos sorrisos. Nossos movimentos passam mensagens para o mundo, então com o sorriso não seria diferente.
O sorriso comunica uma emoção. Por mais contraditório que seja, o sorriso não acompanha só a alegria e sentimentos positivos, mas ele pode ser uma permissão para o outro entrar nesse mundo tão particular de cada um de nós.
2 – Qual o valor de um sorriso para o nosso bem-estar?
Mariana Pereira – Sorrir é terapêutico! Ao sorrir, o nosso organismo é amplamente beneficiado e, além de nos gerar um bem-estar (físico e social), ele ajuda a fortalecer nosso sistema imunológico, auxiliando na diminuição do estresse e melhorando a nossa qualidade de vida. Dizem que quem sorri vive mais. Tenho certeza de que isso é verdade. A longevidade vem porque essa pessoa consegue, pelo seu sorriso, deixa as situações mais leves e até divertidas. Em meio ao caos que é viver, sorrir acalma. Usamos nosso sorriso como janela e como escudo.
Quando estamos bem, um sorriso passa a mensagem do quanto estamos leves e confortáveis com o que está sendo vivido.
Quando o nosso humor não está tão bom ou se estivermos passando por uma situação delicada, o sorriso surge como uma barreira ou um escudo. Sorrindo, mesmo que tristes, buscamos uma forma de nos sentir aceitos e acolhidos.
Nesses casos, o sorriso vem em forma de autoproteção. Uma forma sutil e socialmente aceita de se preservar.
3 – Um belo sorriso é tanto resultado de uma boa saúde bucal, mas também de uma boa autoestima e de um bom estado de espírito?
Mariana Pereira – Sem dúvida! Quem está em paz consigo tem um sorriso diferente, podem reparar! Dentes bem-cuidados refletem a higiene pessoal e influenciam diretamente na autoestima. Quando pensamos em um sorriso bonito, devemos ir para além da estética. Podemos pensar no investimento que aquela pessoa se dá. Investimento de tempo, de energia, de afeto e de cuidado. Sendo assim, quem zela pelo seu sorriso tá cuidando de si. Saúde não é, há muito tempo, ausência de doenças. É o bem-estar físico, mental e social. E um belo sorriso reflete esse conceito de saúde.
4 – Cada pessoa tem o seu sorriso e a sua maneira de sorrir e se comunicar com o mundo. O que um sorriso pode dizer sobre nós e nossa relação com o mundo e as pessoas ao nosso redor?
Mariana Pereira – O sorriso pode ser uma janela ou um escudo, como disse. Se estamos emocionalmente bem, o sorriso ajuda a extravasar essas emoções e sentimentos positivos. Um sorriso gostoso nos aproxima de pessoas e permite com que elas se aproximem de nós. Um sorrisão pode significar que a guarda está baixa e que o outro é bem-vindo. Que quem sorri desse jeito, está se sentindo à vontade e está receptivo ao meio.
Um sorriso atrai olhares, conversas e… Sorrisos!
O sorriso, muitas vezes, é a marca das pessoas. Tem gente que nos conhece pelo sorriso. Se está de um jeito, entendem que estamos bem. Se está de outro, já percebem que talvez algo não está bem. Sorrisos atraem pessoas, seja apaixonadamente ou por algum tipo de cuidado.
Somos seres sociáveis, vivemos em relação o tempo todo. O sorriso é o termômetro do nosso humor que expomos ao mundo.
5 – O sorriso pode ajudar a aproximar as pessoas? Ele nos conecta? Como isso ocorre?
Mariana Pereira – O sorriso nos conecta 100%. Sorrimos com a boca, mostramos os dentes, mas também sorrimos com os olhos e com a inclinação da cabeça. Sorrimos como reação a algo ou como convite ao início de uma troca, que pode ser de ideias ou física. O sorriso, muitas vezes, encerra um assunto e dá espaço para um abraço ou um beijo. Em tempos pandêmicos, em que o contato físico não pode acontecer, um sorriso já é um carinho imenso. Um sorriso é sempre o início de uma troca.
Até mesmo os sorrisos que são escudos, aqueles que nos protegem da invasão alheia à nossa dor, são maneiras sutis de pedir acolhimento.
6 – Desde o início da pandemia todos nós nos “esquecemos” de como é o sorriso do próximo, porém aprendemos a “sorrir com os olhos”, como você falou anteriormente. Como o período que vivemos hoje tem afetado o humor e o bem-estar psicológico das pessoas?
Mariana Pereira – Com o advento da pandemia, nossos sorrisos foram cobertos por máscaras e por medos. Tantas e tantas vezes fomos privados ao prazer de sorrir, porque só as lágrimas ganhavam o mundo. Acredito que nesse período não esquecemos de sorrir, mas tivemos poucos motivos para fazê-lo. Devemos lembrar que só por estarmos vivos já temos motivos para sorrir. E eu concordo. Só que nem sempre conseguimos sorrir só com o que é tão simples. Viver não é simples, eu sei, mas ainda estamos sobrevivendo ao caos. Temos motivos para sorrir todos os dias. Conseguimos? Nem sempre.
Entenda que esse não é um discurso negativo, mas um convite a abraçar a ausência do sorriso.
Aprendemos a sorrir com os olhos e a acolher sem poder abraçar. Começamos a sorrir para as telas, que eram, muitas vezes, a nossa única forma de estar presente entre os nossos amores. Uma piscadinha amorosa, um ouvido (e um ouvinte) atento e um toque entre cotovelos conseguiram chegar perto, mesmo que ainda distante, da gentileza que só um sorriso tem.
7 – De que maneiras um bom sorriso pode influenciar nossa autoestima?
Mariana Pereira – Quando estamos à vontade com o nosso sorriso, gargalhamos e exibimos todos os dentes. É o famoso “sorriso gostoso”. Se estamos nos sentindo bem, fazemos questão de mostrar isso para o mundo. Quem não está bem com o seu sorriso, se esconde, seja cerrando os lábios ou colocando a mão na boca ao sorrir. Isso fala da insegurança da pessoa com os seus dentes. Quem ri, se preocupando da maneira como faz isso e receoso da avaliação e da validação alheia, já dá fortes indícios de que não anda com a autoestima em dia.
E quando falamos de autoestima, não devemos associar a quem se encontra dentro dos “padrões sociais”. Muitas pessoas que vivem esse padrão não se sentem bem e tantas outras, que são consideradas fora do padrão, estão em paz consigo. Um sorriso bonito pode ser sem dente algum, como os dos bebês e das pessoas que, por algum motivo, perderam os dentes. Estando com a saúde bucal em dia, não tem um sorriso feio.
Muitas pessoas não se sentem confortáveis com seus sorrisos e vão atrás de procedimentos odontológicos para tentar amenizar as suas demandas. Que bom que existem esses profissionais que auxiliam no resgate da autoestima daqueles que os procuram em busca de um sorriso sem pudor.
8 – Como uma autoestima abalada ou fragilizada pode influenciar nossas vidas e nosso dia a dia?
Mariana Pereira – Já que estamos falando de sorrisos, uma pessoa que não sorri deixa de externalizar o que sente. O fato de não se sentir confortável com seus dentes pode levar o indivíduo ao isolamento familiar e social. Uma baixa autoestima também pode afetar no rendimento no trabalho, pois a pessoa pode começar a acreditar que não é boa o suficiente para desenvolver algo. Não se sentir bem consigo limita demais a vida de qualquer um. A briga com o espelho pode fazer com que a pessoa fuja inclusive de si, deixando-se de lado e não investindo mais energia nela e no que ela gostava de fazer.
9 – Quais os sinais de uma autoestima fragilizada?
Mariana Pereira – Pouca interação com o meio, desvalorização ou invalidação pessoal e isolamento social são algumas das formas de manifestar que a autoestima está fragilizada.
10 – De que formas podemos nos ajudar a manter uma autoestima saudável?
Mariana Pereira – Fazer o que lhe dá prazer é um excelente caminho para a manutenção da autoestima. Cada um tem sua maneira de ir em busca do que lhe faz bem. Podemos pensar desde a realização de atividades físicas até a ida a um salão de beleza. É importante lembrar que a autoestima não é cumprir um “padrão” estético e sim o indivíduo se sentir bem consigo. Então promover saúde é uma forma de ajudar a melhorar e manter uma boa autoestima. Estar com a saúde física em dia, ter cuidado com a saúde oral e conseguir lidar com seus sentimentos seria a receita para uma boa autoestima. Estamos falando de um ideal e, como todo ideal, não existe. Então a construção da autoestima é diária e constante. É um processo.
11 – Se sentir desconfortável com algo em nossa aparência ou nossas vidas é comum, mas quando isso chega a ser um exagero que nos limita de viver plenamente?
Mariana Pereira – Tudo que é em exagero não é bom. Por isso é importante a presença de profissionais conscientes que consigam perceber o limite de cada paciente que se apresenta. Lembrando que vivemos em uma sociedade que nos cobra um certo tipo de corpo, de dentes, de cabelo, de comportamento, de troca de afetos… Só que devemos lembrar que somos seres únicos e que não nos encaixaremos a nenhum “padrão” em todos os âmbitos de nossas vidas. Talvez não nos encaixemos em nenhum e tá tudo bem. Ir em busca do que nos faz feliz é salutar. Ir em busca do que achamos que nos fará feliz só porque será “aceito” socialmente e isso pode gerar algum desconforto… Temos aí um grande alerta de que é a busca exagerada e patológica a um “ideal”.
Contar com ajuda psicológica nesse momento é muito importante.
12 – Esse estado constante de “desconforto com nós mesmos” pode desencadear quais tipos de processos somáticos, afetando nosso equilíbrio psicológico e até mesmo o de nossas famílias?
Mariana Pereira – Essa busca incessante de uma “perfeição” ou de um corpo/sorriso ideal pode desencadear quadros ansiosos e depressivos, podendo levar o indivíduo a realizar mutilações e até, infelizmente, a uma situação fatal, como o suicídio.
13 – Como nós, nossas famílias e amigos, podemos ajudar uma pessoa que se encontra em um momento assim, com seu sorriso apagado e sua autoestima fragilizada?
Mariana Pereira – Antes de criticar o que o outro está sentindo, tente entendê-lo. A prática da empatia vai muito bem nesse momento. Acolha-o. Sorria para essa pessoa… Assim você demonstrará que está receptivo e disposto a ajudá-la. Caso seja necessário, procure profissionais que possam ajudá-lo a resolver essas questões, como psicólogos, dentistas, médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos…
Um bom sorriso pode ser o pontapé inicial para ajudar a resgatar o sorriso de alguém que amamos.
A Dr. Amigo sempre lembra que a nossa saúde mental é tão importante para o nosso bem estar, quanto qualquer outro aspecto de nossa saúde. Devemos nos cuidar sempre!
E caso vocês tenham maiores dúvidas e perguntas sobre o assunto, queiram conhecer um pouco mais sobre o trabalho da Dra Mariana Pereira ou estejam em busca de acompanhamento psicológico, mesmo que de forma on-line, podem entrar em contato com ela pelo seu email de trabalho que é: marianac.pereira@yahoo.com.br