BLOG DR. AMIGO – ENTREVISTA DR. PAULO TOSCANO (CRM-PA: 6267) – TROMBOSE.

O dia 13 de outubro é o Dia Mundial da Trombose, a data internacional tem como objetivo conscientizar a população sobre o assunto, diminuir o número de casos não diagnosticados e informar quais medidas podem ser tomadas para a prevenção da doença trombótica. Sobre este tema, nós convidamos para uma conversa, o médico angiologista e cirurgião vascular Paulo Toscano, do Hospital Guadalupe (CRM-PA: 6267).

O que é a trombose?

Dr. Paulo Toscano – É uma doença em que ocorre a formação anormal de coágulos sanguíneos tanto no sistema arterial, quanto no sistema venoso (o que traz de volta o sangue para o coração). Os sintomas e sinais serão, portanto, decorrentes da falta de suprimento sanguíneo para um determinado órgão ou sistema, quando o coágulo obstrui uma artéria; ou dificulta a saída do sangue de um determinado órgão ou segmento do corpo em direção ao coração, quando a obstrução for nas veias, que promovem a chamada circulação de retorno (venoso).

Então, respondendo à pergunta: um dos fatores que prejudicam o retorno venoso é a trombose. Mas não é a única causa ou fator: as veias dilatadas e tortuosas, chamadas varizes, ou o mau funcionamento das válvulas venosas profundas, também dificultam esse retorno. Vale a pena frisar que, no seu processo de resolução, uma trombose pode deixar como sequela a disfunção nessas válvulas venosas e levar ao aparecimento de varizes.

Quais os sintomas?

Dr. Paulo Toscano – Dor e inchaço na área afetada são os mais frequentes, mas há outros sinais clínicos: mudança de coloração da pele, os vasos venosos do lado afetado ficam mais salientes e a musculatura fica empastada como se fosse uma esponja encharcada, fica pesada na palpação. Mas há tromboses pouco sintomáticas, ou mesmo sem sintomas, e que passam sem o diagnóstico. No caso da trombose nas veias, o grande risco é o coágulo se desprender, caindo livre na circulação venosa, chegando até os pulmões.

Existem tratamentos possíveis?

Dr. Paulo Toscano – O uso de remédios que impedem a formação de um novo coágulo, ou a progressão de um já formado, chamados anticoagulantes; o uso de remédios que podem dissolver os coágulos, chamados de trombolíticos; e procedimentos de remoção ou aspiração dos coágulos, falando genericamente. Cada uma dessas opções tem a sua indicação no manejo da trombose, mas via de regra a anticoagulação é a mais frequentemente utilizada e principal arma terapêutica.

A genética é um fator de predisposição?

Dr. Paulo Toscano – Sim, existem condições relacionadas a mutações em alguns fatores de coagulação que podem predispor à ocorrência da trombose, são as chamadas trombofilias. Mas é preciso destacar que há formas de trombose relacionadas a fatores específicos, capazes de desencadeá-la, e que não tem relação direta com aspectos genéticos. São as chamadas tromboses “provocadas”.

Quais cuidados são necessários para evitar o surgimento da doença?

Dr. Paulo Toscano – Por exemplo, nos pacientes hospitalizados, é fundamental uma avaliação do risco com um especialista. Existem níveis de classificação de risco, tanto para doentes clínicos, quanto para os cirúrgicos, que podem e devem ser utilizados para definir as estratégias de prevenção. Nos pacientes ambulatoriais (de consultório) a prevenção passa por medidas comportamentais: combater a obesidade e o sedentarismo; evitar posturas estáticas por período prolongado; a prática de atividade física regular é sempre aconselhável. Aliás, há inclusive modelos de meias de compressão próprias para a prática de esportes. E, para todos aqueles que já tiveram um episódio de trombose uma vez, independentemente de sua gravidade, lembrar que o seu risco de uma nova trombose é maior do que o da população geral, a depender da causa. Sempre acompanhar com o seu especialista, a fim de estabelecer as estratégias adequadas de prevenção.

Há mais de um tipo de trombose? Qual a mais perigosa?

Dr. Paulo Toscano –  Sim. A formação de coágulos pode ocorrer tanto no interior das veias, quanto das artérias, por diferentes razões. Ambas, dependendo da localização e do êxito do tratamento, são potencialmente perigosas.

E quais os riscos que a trobose traz à vida das pessoas?

Dr. Paulo Toscano –  Risco de morte e risco de impotência funcional, a depender da localização e do segmento afetado. A trombose nas veias das pernas, que é a mais comum delas, pode gerar o aparecimento de varizes secundárias e até úlceras de perna como sequelas. São situações potencialmente incapacitantes e, na medida em que você as previne, ou trata de maneira adequada, minimiza ou evita a sua ocorrência. Portanto, é fundamental a informação sobre a doença e os meios de prevenção, tanto para o público leigo, quanto para as equipes de assistência à saúde,  incluídos os médicos e estudantes de medicina.

Anticoncepcionais podem causar trombose?

Dr. Paulo Toscano – Sim. As pílulas exercem alterações na concentração de fatores de coagulação (aumento ou redução desses componentes). As proteínas conhecidas como Fator II, VII, IX e X, além do Fator VIII e do Fibrinogênio circulante aumentam sua concentração, e isso se associa a estado de hipercoagulabilidade. Alguns dados sugerem que, no 1º ano de uso dos anticoncepcionais, o risco máximo de um evento é maior até o 4º mês, diminuindo daí por diante. É importante lembrar que há contraceptivos com diferentes concentrações e os efeitos dos diferentes hormônios nos fatores de coagulação também são variáveis. Os chamados anticoncepcionais de segunda e terceira geração contém doses baixas dos hormônios (em microgramas), mas mesmo esses não são risco zero. Essa informação, inclusive, consta na bula dos medicamentos. Ao mesmo tempo, não se pode ignorar o seu papel na vida contemporânea, seja no planejamento familiar, seja na terapia de reposição hormonal, e o ideal é que seja feita uma avaliação criteriosa quando da indicação de seu uso.

Qual a relação de ficar muito tempo parado ou sem o uso das pernas com o desenvolvimento da doença?

Dr. Paulo Toscano –  Permanecer muito tempo parado na mesma posição, sem atividade muscular, deprime um mecanismo importante no bombeamento do sangue em direção ao coração, que é a contração e o relaxamento contínuos dos músculos da perna e do pé. Esse grupo de músculos exerce o papel de um coração periférico, bombeando o sangue contra a ação da gravidade em direção ao coração.

As meias elásticas ajudam no tratamento? Por quê?

Dr. Paulo Toscano – Sim. Auxiliam no bombeamento do sangue, diminuindo o acúmulo de sangue “parado” nos membros inferiores, o que chamamos de estase venosa. Com isso, ajudam a controlar os edemas e o natural desconforto que provocam. Há evidências de que o uso na fase aguda da trombose traz benefícios para os pacientes. Vão ajudar também no controle dos sintomas decorrentes de sequelas da doença. Portanto, as meias são importantes no tratamento, mas também na prevenção da trombose.

E para os pacientes de câncer, o risco de trombose é maior?

Dr. Paulo Toscano –  Sim. Pacientes oncológicos apresentam condições que favorecem a formação anormal desses coágulos. Seja pela biologia do próprio tumor (alguns secretam substâncias favorecedoras da trombose, ditas pró-coagulantes), seja pelo crescimento do tumor, invadindo ou comprimindo estruturas vasculares levando à trombose, ou por características do próprio tratamento: quimioterapia, radioterapia e o perfil das cirurgias oncológicas, cateteres venosos centrais, politransfusões e a própria hospitalização prolongada. O tipo de tumor é relacionado a graus variados de risco de tromboembolismo (formação de coágulos de sangue no interior das veias), e os considerados de risco muito alto são pâncreas, estômago e cérebro. A presença de metástases também está relacionada a um maior risco de trombose, por se tratar de doença em estádio mais avançado. Sabe-se hoje que, depois da progressão da doença, a segunda maior causa de óbito nos pacientes oncológicos é o tromboembolismo venoso. Entretanto, é alentador o fato que o ele é passível de prevenção e de tratamento eficazes, em parte graças ao avanço de anticoagulantes modernos já validados para o uso nos pacientes do câncer.

Com relação aos exames, quais são feitos para diagnóstico?

Dr. Paulo Toscano –  Exames de imagem vascular, dentre os quais, o mais comum é o “Doppler Ultrassom Vascular”. Trata-se de um método não-invasivo, indolor, de mais baixo custo, se comparado a outros métodos, e que pode ser realizado até na beira do leito. É o exame de escolha para os pacientes com moderada e alta probabilidade de suspeita clínica de tromboembolismo venoso. Outros são a angiotomografia e a angioressonância, em estudo de fase venosa, que podem ser úteis para o estudo em áreas onde o ultrassom tem maior dificuldade, por exemplo, na cavidade abdominal ou pélvica. E existe a flebografia, um cateterismo do sistema venoso, que seria o método padrão-ouro, porém menos usado em função da invasividade, e das limitações logísticas e de custo para  sua execução. Exames de sangue são inespecíficos, inclusive o agora famoso D-Dímero.

Há testes feitos em consultório que podem identificar a trombose ou somente exames de imagem podem confirmar a doença?

Dr. Paulo Toscano – Os exames de imagem podem ser feitos em ambiente de consultório. Testes clínicos estabelecem o grau de suspeição, mas precisam ser confirmados por exames objetivos, sobretudo porque o tratamento com os anticoagulantes não é isento de riscos de hemorragia. Portanto, é fundamental estar embasado em dados objetivos. No caso dos pacientes oncológicos, por exemplo, em que já estão enfraquecidos pela doença, é muito importante ter o diagnóstico confirmado.

E nós da Dr. Amigo sempre lembramos, cuide da sua saúde! Se atente às informações do Dr. Paulo Toscano. Faça exames regularmente e, ao menor sinal de algo fora do normal, procure ajuda de um profissional de saúde.

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