BLOG DR. AMIGO – ENTREVISTA MARIANA PEREIRA (PSICÓLOGA – CRP 10/04225) – RELACIONAMENTOS ABUSIVOS

Olá você!

Hoje o nosso Blog tem uma conversa especial com a psicóloga Mariana Pereira (CRP 10/04225) que vai nos falar sobre relacionamentos abusivos, como identificar um, quais seus sinais, efeitos e como se distanciar de um relacionamento como esse.

Quando um relacionamento se torna abusivo?

Mariana Pereira – Essa é uma pergunta muito delicada, porque nos leva a pensar que existe um dia ou fato determinante para que o relacionamento se torne abusivo. Assim como o relacionamento é fruto de uma construção, a abusividade também.

Mas se tivermos que pontuar um momento em que possamos ficar atentas (os) é quando o amor passa a doer. Parece até antagônico (e é!), mas se o amor antes sentido se tornar motivo de angústia, medo e dor, possivelmente estamos falando de um relacionamento abusivo.

Quais são os principais sinais?

Mariana Pereira – É comum associar o relacionamento abusivo com agressões físicas. No entanto, nem sempre se começa por ela.

Existem diversas formas de adoecimento dessa relação. Os comportamentos abusivos, normalmente, se iniciam no campo verbal, que afeta diretamente o psicológico. Dificilmente ouvimos relatos de um casal que vivia uma relação saudável e, do nada, o (a) parceiro(a) dá um tapa na (o) parceira(o). Se esse comportamento surgir “do nada” a chance de a pessoa agredida sair dessa relação é muito grande. Então, os sinais de abusividade tendem a ser mais sutis, no início, o que pode ser facilmente confundido (e por isso justificável) por “cuidado” e “amor”.

O ciúme é uma das formas de começar a tornar um relacionamento abusivo. O excesso de ciúmes se torna manipulação, que nada tem relação com amor. Falas como “te amo tanto que te quero só pra mim” ou comportamentos que façam o(a) parceiro (a) se sentir vigiada, como ter o celular vistoriado e ter senhas compartilhadas.

Comportamentos “simples”, mas que podem ser o início de uma relação de manipulação e poder sobre alguém.

Um “relacionamento abusivo” é o mesmo que um “relacionamento tóxico”? Existem diferenças?

Mariana Pereira – São sinônimos. Um relacionamento tóxico sempre é um relacionamento abusivo e vice versa. Ambos são marcados pela manipulação, violência física ou verbal, dependência emocional ou financeira.

Como um relacionamento abusivo afeta a vida da vítima, do abusador e das pessoas ao redor (como familiares, amigos etc.)?

Mariana Pereira – A vítima tem a sua autonomia completamente extirpada. Seja ela emocional e/ou financeira. A vítima deixa de acreditar que pode ser uma pessoa interessante e que, por isso, necessita do(a) parceiro (a) para viver. A perda da autoestima e da autoconfiança advindas de falas “adoecedoras” como: “se você me deixar, ninguém vai te aguentar” ou “se eu for embora você não vai ficar com nada, já que eu que paguei tudo”. A vítima tende a se isolar do seu ciclo social, por ter vergonha de compartilhar o que vive ou por ainda não ter tido consciência da relação adoecida em que vive, mas prefere ficar longe “porque o(a) parceiro(a) tem muito ciúme de todo mundo”.

O (a) abusador(a) tem um poder de manipulação muito grande sobre a vítima e faz com que, cada vez mais, o(a) outro (a) se torne mais e mais dependente.

A família e amigos da vítima muitas vezes se dão conta do que está acontecendo, às vezes tentam alertar a própria vítima, mas nem sempre têm sucesso nessa atitude. Muitas vezes, a família e os amigos se afastam, por escolha da vítima e por não darem conta de presenciar tamanha violência com alguém que eles amam.

O machismo, dependência financeira, violência (física ou psicológica), insegurança e até mesmo histórico de comportamentos e dinâmicas familiares podem conduzir a pessoa a aceitar ou se envolver em relacionamentos abusivos?

Mariana Pereira – Ninguém escolhe viver um relacionamento abusivo. Vivê-lo não é uma questão de aceitar ou não. Estamos falando de uma relação onde há um abusador e há um abusado. É importante frisar isso, porque é muito comum ouvirmos comentários do tipo “fulana gosta de apanhar”, “beltrano merece ser perseguido”. Ninguém vive um relacionamento abusivo porque quer.

Em muitas situações, a vítima nem percebe que é vítima e chega até a se achar merecedora de tamanha violência. Nesses casos, a autoestima e a autoconfiança da vítima estão completamente abaladas e isso não é uma escolha.

E o que pode tornar a pessoa, um “abusador” dentro de um relacionamento? Ou já existe uma predisposição comportamental para isso?

Mariana Pereira – Os abusadores também têm, na maioria das vezes, uma história de sofrimento. No entanto, isso não justifica seus comportamentos agressivos. Um homem abusador, por exemplo, pode ter sido um menino muito agredido ou controlado pelos pais. Ele pode ter vivenciado um relacionamento abusivo dentro de casa e esse modelo se tornou referência para ele. Mil possibilidades!

Geralmente, a maioria dos relatos sobre abusos sofridos em relacionamentos estão associados a relações amorosas (namoros, noivados ou casamentos), mas relacionamentos abusivos não se restringem apenas ao “campo amoroso” e também podem existir dentro de relações familiares (entre pais, filhos, tios, avôs, avós etc.). Como reconhecer isso dentro de nossas relações familiares? É mais difícil?

Mariana Pereira – Qualquer relacionamento pode ser abusivo. Duas ou mais pessoas já é o suficiente para construir uma relação saudável ou não. Caso não seja, estamos falando de uma relação abusiva. O controle excessivo entre irmãos, a perda de privacidade na relação chefe e empregado, ameaças e violências constantes entre pais e filhos. Todas essas relações podem ser abusivas.

O relacionamento abusivo é caracterizado pela existência do ciclo da violência, que consiste em três pontos. O primeiro, que é a construção de tensões, onde há um controle excessivo do comportamento da outra pessoa, falas humilhantes e ofensivas, podendo ocasionar até um isolamento da vítima.

O segundo ponto é a explosão da violência, onde o abusador pode chegar a praticar violências verbais e psicológicas, podendo até chegar a uma agressão física.

O terceiro e último ponto é caracterizado pelo pedido de desculpas do abusador e a promessa de nunca mais repetir tais comportamentos.

Após o último ponto, o primeiro volta a acontecer e o ciclo segue. Então, toda e qualquer relação humana que seguir esse padrão, pode ser uma relação abusiva.

No seio familiar, existem formas de se proteger desse tipo de comportamento ou até mesmo ajudar a solucioná-los?

Mariana Pereira – É importante que a vítima receba o apoio necessário das demais pessoas da família. Entender que aquela pessoa não está vivendo aquilo porque quer já é um primeiro passo para abraçar essa vítima e dar forças para ela conseguir se libertar desse ciclo.

Atualmente, quando ouvimos relatos de relacionamentos abusivos, infelizmente, em sua maioria as mulheres estão na posição de vítima, por que isso? O machismo existente em nossa sociedade propicia o surgimento de abusadores?

Mariana Pereira – A construção do modelo de “ser mulher” é social. As mulheres sempre foram colocadas como submissas aos seus parceiros e dependente deles. Esse cenário vem mudando, mas a visão e a cultura machista ainda são pontos muito fortes que reforçam os relacionamentos abusivos, infelizmente.

Existem situações contrárias, onde o homem é a vítima dos comportamentos abusivos? É difícil identificar situações assim? As formas de agir e ajudar nesses casos exigem algum tipo de ação diferenciada?

Mariana Pereira – Sim! Homens também são vítimas em alguns relacionamentos abusivos. As violências são muito parecidas em ambos os casos, mas quando a mulher é vítima, o abusador tem um “respaldo social” que acaba o protegendo, como o machismo. É “mais esperado” que um homem queira controlar uma mulher, porque foi assim que ele foi ensinado a ser. A mulher, controlando o homem, é muitas vezes associada a algum tipo de psicopatologia. Ele, ciumento patológico, muitas vezes é reconhecido como cuidadoso. Ela, ciumenta patológica, é rotulada como “louca”.

Infelizmente, essa diferenciação das violências se dá pelo machismo.

A terapia e o acompanhamento psicológico podem ajudar a solucionar ou buscar ferramentas para acabar com esses relacionamentos abusivos, seja em um relacionamento amoroso ou em uma relação familiar?

Mariana Pereira – A terapia ajuda bastante!! Quando o abusador se percebe como tal, ele passa a ter a possibilidade de continuar nesse caminho ou não. A vítima também. Essa percepção vem através da terapia. Terapia é lugar de autoconhecimento. Então, é o lugar ideal para que se possa cuidar dessas dores.

E você, não se esqueça do que a Dr. Amigo sempre recomenda, cuide sempre da sua saúde física e mental.

Nossa saúde mental é tão importante para o nosso bem estar, quanto qualquer outro aspecto de nossas vidas. Nunca devemos nos descuidar!

E caso vocês tenham maiores dúvidas e perguntas sobre a nossa entrevista de hoje e queiram conhecer um pouco mais sobre o trabalho da Dra Mariana Pereira ou estejam em busca de orientação e acompanhamento psicológico, podem entrar em contato com ela, pelo seu email de trabalho que é: marianac.pereira@yahoo.com.br

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